domingo, 25 de novembro de 2012

Fernando Alonso, Super Man ?

Foto do blogue Auto Circuito


Acabou hoje o Campeonato Mundial de F1, onde o piloto alemão Vetel garantiu, com o seu sexto lugar no GP do Brasil, o título mundial de 2012.
Foi realmente um dos melhores campeonatos que acompanhei desde os anos 70. Já havíamos passado mais da metade do ano e ainda tínhamos quatro possíveis campeões e na última corrida o alemão e o espanhol Alonso disputaram o título já na típica corrida maluca que historicamente o GP de São Paulo se mostra com as constantes mudanças entre pista seca e molhada.
No fim o título de pilotos ficou nas mãos certas. O Vetel  e a Red Bull, que já havia garantido o título de marcas, fizeram a melhor equipe em 2012 com a participação do Weber. O Fernando Alonso, que tem uma grande capacidade de auto marketing não teve nos números  de um campeão. Para justificar isso colocou sempre a culpa no carro.
Na primeira metade do campeonato os pontos conquistados eram vendidos como suados, por pura capacidade de tirar do carro o que ele não teria para dar. A performance pífia  do Massa nesta fase ajudavam a estratégia de se vender a imagem do espanhol como de um quase super homem. Alonso na primeira metade do campeonato conquistou 164 pontos do total dos 278 que conquistou ao final. Na segunda metade, com ajuda clara do Massa nas três corridas da Coreia do Sul, Estados Unidos e a de hoje no Brasil, o companheiro do brasileiro conquistou 114 pontos. Já Massa conquistou nesta segunda metade do campeonato, cedendo posições para o Alonso, 97 pontos.
Se levarmos em conta a simples inversões de posições entre o espanhol e o brasileiro nestes três GP’s que apontei acima, o Massa teria conquistado 106 pontos contra 105 pontos do Fernando Alonso. Poderíamos dizer que na briga interna da Ferrari o Alonso conquistou a primeira metade do campeonato e o Massa conquistou a segunda metade.
É claro que o campeonato é do primeiro ao último GP, e o agora tricampeão Vetel mostrou isso, mas estes números mostram que o Alonso não é esse super homem que o seu marketing pessoal e parte da mídia mundial quer fazer ver.
Que venha 2013 !



terça-feira, 20 de novembro de 2012

Reabrindo "A Arte em Moçambique"...


Em Novembro de 2010 havia iniciado a colocar na Lanterna Acesa uns retalhos da edição “A Arte em Moçambique”, de autoria de Alberto Feliciano Marques Pereira, então professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina. Edição esta do ano de 1966. Percebi, pelo contador de acessos, que são é um dos temas mais lidos no blogue e tomei a iniciativa de aqui voltar a transcrever, ou passar cópias, do que me vier a interessar mais. Com calma colocarei aqui o índice do livro para que os leitores possam sugerir a priorização do tópicos a serem aqui colocados.
É uma obra de uma miscelânea de personalidades presentes com contribuições, ou mesmo como coautores. Vão elas do próprio General Alberto Feliciano a Rui Knopfli, passando pelas grandes Glória de Sant’Ana e Noémia de Sousa, Fernando Couto, Reinaldo Ferreira, Nuno Bermudes, o muito querido Edmundo Vieira Simões, e tantas outras preciosas participações. E isto tudo com uma abertura do livro com um texto do General José Augusto da Costa Almeida, então Governador Geral da Província de Moçambique, outro do seu antecessor Sarmento Rodrigues e por fim um do arcebispo de Lourenço Marques Dom Custódio Alvim Pereira.
Estes textos, que estarão colocados neste post, repetindo inclusive o do primeiro já aqui editado em 4 de Novembro de 2010, mostram o perfil colonialista da época com um grande tom nacionalista dos governadores e arcebispo, mas não estragam em nada a reprodução da história de Moçambique nas suas mais variadas formas de arte, como a sacra, pintura, escultura, arquitetura civil e militar, em prata, vitrais, poesia, prosa, dança e música.
Bom proveito!


* Dica para leitura das imagens abaixo: Clique com o botão direito do mouse sobre a imagem e em seguida escolha a opção "Abrir link em uma nova guia". Agora, nesta nova guia, clique mais uma vez sobre a imagem usando a lupa para aumentar a mesma. 












segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Dia Nacional da Consciência Negra

Foto do site Publique ideias
Dia 20 de Novembro é no Brasil o Dia Nacional de Consciência Negra. Neste tão importante movimento de valorização dos afrodescendentes, o grande ponte negativo dos últimos anos foi a “conquista” das cotas dos negros para as universidades públicas.
É incoerente com a própria condição da (des)organização da sociedade brasileira. Um dos argumentos dos defensores é a afirmação que brasileiros brancos têm, em média, dois anos a mais de escolaridade do que negros e pardos, de acordo com dados de 2008 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ora, há que buscar outras estatísticas para melhor avaliar se este argumento é forte suficiente para se criar um código que gere mais chances  de acesso a uma universidade pública para negros e pardos do que para outros cidadãos brasileiros, que hoje não têm culpa alguma pela história dos colonizadores e brasileiros do passado e que têm tantas dificuldades quanto os negros de classes menos favorecidas.
Numa pesquisa feita em 2011,pela UFRJ apontou que os negros e pardos representam  54,1% dos desempregados e/ou desocupados no país. Isso quer dizer que 46, 9% são não afrodescendentes. Aqui fica à partida algo que me parece injusto. Os negros que representam neste caso 54%, por questões históricas, têm mais possibilidade de acessarem uma faculdade que os outros 46% da população que também têm marcas profundas deixadas pela história.
O Censo 2010 apurou que, dos 16 milhões de brasileiros vivendo em extrema pobreza (ou com até R$ 70 mensais), 4,2 milhões são brancos e 11,5 milhões são pardos ou negros. Ou seja, esses 11,5 milhões de pessoas tem mais possibilidade de acesso à universidade do que os outros 4,2 milhões de pobres que a história não os beneficiou no século XXI pelo os que os seus ascendentes possam ter feito em séculos passados.
Não coloco aqui em questão a história suja da escravatura. O que não se pode é prejudicar outros 4,2 milhões pois esses não estão tirando proveito algum no Séc. XXI pelo o que a história nos mostrou no Séc. XV e seguintes.
Sei também que se buscou amenizar a injustiça das cotas para negros e pardos criando-se cotas para os alunos do ensino público básico e médio. Para estes ficam 50% das vagas, e para os negros e pardos 20%. Ou seja, quem estuda em colégio público no Brasil são cidadãos de classes menos favorecidas, onde o negro tem uma grande participação nas salas de aulas, o que de fato confirma as estatísticas que usei como exemplo acima. Assim sendo, os negros que estão na maioria nas escolas públicas, disputarão com cotas de 50% + 20% o que se não é garantia de uma vaga é um facilitador bastante injusto para os demais concorrentes a uma vaga nas universidades públicas.
Penso se não seria mais simples, mais coerente, e por isso mais justo, adotar-se apenas as cotas para alunos da rede pública do ensino básico e médio.
Por que da definição de critérios que aparentemente buscam corrigir distorções da história criando novas distorções?
É claro que as estatísticas que aqui apresentei, embora reais, não sejam absolutamente do “tamanho” que passo aqui, mas conceitualmente me parecem o bastante para passar para os leitores os valores que defendo. O Brasil ainda tem sim grandes diferenças sociais, mas não concordo em soluções paliativas onde se invertam injustiças. É quase acreditar no ditado que diz que “ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão”.
O que o Brasil precisa, e urgentemente, é melhorar a qualidade no ensino fundamental e médio das escolas públicas. Fazendo isso o índice de aprovação nas provas de acesso às universidades das classes menos favorecidas melhorarão com bons níveis de competitividade com os alunos da rede particular.
Já sobre as cotas para os índios, que sendo justo, também estão contemplados nesta lei de cotas para negros, pardos e índios, até posso, e talvez deva, parar e avaliar de forma diferente. Isso porque os índios no nosso país continuam sendo tratados como nos tempos coloniais, inclusive no paternalismo criminoso, como achar que é bonito induzir os mesmos a não adotarem conhecimento tecnológico e por isso se manterem à margem do desenvolvimento. Manter culturas e os seus valores não é sinônimo de manter parcelas dos cidadãos do planeta à mercê da competição do mundo ocidental, que se nos parece cruel é real e não volta atrás. Só poderá ser melhorado, mas sem hipocrisias paternalistas ocidentalizadas.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

ProSavana... e a logística?


Áreas com relevo adequado
à agricultura mecanizada.
Em Maio deste ano estive em Moçambique, acompanhado por mais um diretor da empresa para quem trabalho, para avaliarmos o potencial para investirmos na agricultura, em especial no milho e soja. As terras e condições climáticas, com alguns cuidados, são de um grande potencial para se atingir bons níveis de qualidade e produtividade. A vontade do Estado, dos governos central e provinciais nos seus vários níveis, também é aparente para que encoraje os investidores.
O problema fica na logística, tanto no que se refere a transporte, mas sabendo-se que não é a única variável para a capacidade de escoamento da produção ser eficiente. Há a necessidade de armazéns graneleiros, ou silos, nas próprias regiões de plantio como nas estruturas portuárias. A capacidade de produção de Moçambique, por questões populacionais e mesmo econômicas desta população, vai além da demanda ou capacidade de consumo do país e a exportação não se dá apenas colocando a colheita sobre camiões e os enviar até à China.
Nessa lógica organizacional da logística de escoamento da produção, como do acesso aos fertilizantes e defensivos, ainda está muito imaturo o desenho que o Estado pretende implementar. Aqui devo fazer um parêntese, alertando que tão importante quanto o escoamento da produção é o acesso aos insumos, pois a tecnologia avançada que o mundo exige para se ser competitivo não está somente nos equipamentos de ponta, mas também bastante dependente de um adequado equilíbrio de nutrientes no solo, até para garantir que a terra continue sendo um dos poucos recursos naturais renováveis.  E estas necessidades são possíveis se houverem boas condições de acesso a fertilizantes e defensivos químicos. É claro que os custos dos mesmos devem ser compatíveis, mas trato aqui especialmente o tema de logística, que também depende de transporte e de pontos de armazenagem e/ou pontos de distribuição.
Voltando aos obstáculos em relação ao escoamento da produção agrícola em Moçambique, e que não vi ser devidamente tratado nos projetos de incentivo e busca de investidores.
Manutenção das estradas.
Percorri um pouco mais de 3.000 km de estradas, entre idas e vindas, partindo da Beira e por isso atravessando parte da província de Sofala, como das províncias de Quelimane, Nampula e Cabo Delgado. Além das vias principais como a EN1, grande parte das estradas rurais, de terra batida, têm condições bastante razoáveis para um bom escoamento sobre rodas. Temos no Brasil, em algumas regiões agrícolas, vias sem as mesmas condições e não se deixa por isso de ver bons volumes de produção nas mesmas. Ou seja, pelo o pouco que vi as estradas não são um obstáculo para a movimentação de produtos e insumos. Além desta via, em algumas das regiões por onde passei, o potencial de transporte por ferrovia é muito bom, talvez proporcionalmente aos tamanhos de cada país, até melhor do que temos no Brasil. É claro que com o aumento de fluxo, tanto as rodovias como as ferrovias demandarão de ainda mais  manutenção.
A questão fica realmente na implementação de uma política de logística por parte do governo. Não quero deixar aqui a visão que deva ser o governo a garantir essas condições, mas se o estado não abraçar a ideia de que no seu programa de incentivo à agricultura através de investidores como de incremento na capacidade técnica da agricultura familiar moçambicana há que se dar um bom espaço para logística dos insumos e produtos, penso que será um projeto que estará fadado ao insucesso.
O governo moçambicano precisa criar equipes de articulação entre os vários perfis de investidores que possam vir a se instalar no país.
Posso mesmo afirmar que nos contatos que tive com pessoas do Ministério da Agricultura e de outros órgãos públicos provinciais, não percebi qualquer planejamento ou trabalho nesse sentido. Em todos os níveis destas autoridades o que se percebe é que têm a expectativa que o investidor leve, e implemente, essa rede de forma completa. Chegamos a ouvir que acreditam que o investidor na cultura de soja possa inclusive instalar indústrias como de esmagamento de soja, para produção de óleo e farelo. Isso é pensar pequeno e limitar a motivação de grandes investidores.
Além de ser muito difícil encontrar um investidor que participe em todas as etapas da economia, como plantar, colher, transportar insumos e produção, armazenar, manufaturar, distribuir os seus produtos, ter as suas próprias prateleiras para oferecer ao consumidor final, não é também este um perfil adequado para uma economia que tenha pretensões de melhor distribuição de renda e que os investidores puxem para cima não só a qualidade técnica dos pequenos agricultores como das demais áreas da economia do país.
A empresa para quem trabalho no Brasil, até atua em várias das etapas que, talvez exageradamente, descrevi acima. Nós plantamos soja, milho, e cana de açúcar. Até temos a capacidade de armazenar toda a nossa produção de grãos. Mas o nosso negócio a seguir, de armazenar a nossa capacidade, não sobrevive se também não prestarmos serviços de armazenagem para outros produtores, inclusive para o estado brasileiro nos seus estoques reguladores. Nós até temos uma estrutura em um porto brasileiro para escoar os nossos volumes direcionados para a exportação, de plantio próprio e comprado junto a produtores, mas também não este negócio sobreviveria se ficássemos restritos aos volumes por nós gerados. Para pagar a conta e termos alguma rentabilidade nesse negócio, precisamos também ter outros clientes. Na cana de açúcar até que a produção total é direcionada para uma usina de álcool do grupo e esta é somente abastecida pela nossa produção de cana. Entre soja e milho, movimentamos anualmente mais de 2 milhões de toneladas e não temos um único caminhão ou trem (comboio) para o fazer.  Isso vale também para o escoamento de álcool anidro e hidratado. Simplesmente não é o nosso negócio. Até temos duas unidades de processamento de soja para produção de óleo bruto e farelo, mas não refinamos este óleo. Não é o nosso negócio. Tem gente sabendo trabalhar com isso melhor. Vendemos o nosso óleo degomado para eles, no mercado interno ou de exportação. É mais inteligente e acaba sendo mais saudável para a economia. Contratamos transportadores para movimentarem o nosso produto, pois são especialistas nisso e por isso mais competentes que nós.
Volto a dizer: no projeto de busca de investidores no agronegócio moçambicano, está faltando uma perna no seu planejamento que é esta questão da logística e de um trabalho direcionado para os vários perfis de investidores necessários para que a agricultura do país decole. Condições se têm, precisa-se é organizar melhor o que se quer e como fazer.
Literalmente pequenos produtores
na agricultura familiar.
E como moçambicano, não posso deixar de pedir. Moçambique deve buscar esses investidores, precisa deles, mas nunca esquecendo de implementar políticas que garantam benefícios para o pequeno agricultor e demais população rural do pais. As duas condições são totalmente compatíveis, mas há que induzir e garantir que assim aconteça.
Não se espere dos investidores que tenham na sua essência um perfil filantrópico. Isso é responsabilidade do estado com apoio de ONG’s sérias... mas só as sérias!